
Ai de vós, atores, diretores e autores de telenovelas,
que inquietais com os gritos raivosos de vossas famílias de papelão os momentos
em família das famílias de verdade, poluindo a paz do jantar e da conversa.

Ai de vós, chusma de motociclistas zoadores!
Ai de ti, animador de auditório dos domingos, que
elevas com decibéis descontrolados o nosso desconforto justamente no dia do
conforto.

Ai de ti, narrador de jogos de futebol, que vendes
excitação, clubismo, bairrismo e patriotismo junto com patrocínios de consumo
e, para melhor satisfazer teus anunciantes, tens de berrar ao vento como se não
estivesses presente na nossa sala, ou como se fôssemos meio surdos, nós,
indefesos aficionados da bola.


Ai de vós, técnicos de sons e efeitos especiais dos
filmes espetaculosos modernos, que transformais em tortura auditiva as mais de
duas horas que ficamos no cinema, o que leva espectadores prevenidos a usar
protetores nos ouvidos para evitar danos futuros.
Ai de vós, organizadores dos pancadões da periferia,
que incrementais com potentes sons bregas o porta-malas dos vossos carros e
levais novos desassossegos a regiões da cidade onde já não se tem sossego.
Ai de
vós, amantes do foguetório, criaturas pretéritas.
E, por fim, ai de nós, os desamparados do Programa do
Silêncio Urbano, que clamamos todos os dias do ano pela redução geral do
barulho e que atravessamos o último dia 7 de maio sem esperanças de que se
fizesse silêncio pelo menos no dia dele.

Silêncio
Por Ivan Angelo
Fonte: Revista Veja - SP

Silêncio
Por Ivan Angelo
Fonte: Revista Veja - SP
Poderá gostar também de: O problema gravissimo da Misofonia
Nenhum comentário:
Postar um comentário